Prestes a completar 12 anos de carreira no mundo da música, David Carreira lançou o álbum OYTO no passado dia 19 de maio, cinco depois do seu último lançamento. Em conversa com a FORUM, o cantor fala sobre o novo álbum, o seu percurso e transformação ao longo dos últimos anos.

O que é o álbum OYTO?
O OYTO é o meu álbum mais demorado. Era para ter saído em 2020, mas não fazia sentido lançar no meio da pandemia – não ia poder estar com os fãs em concerto, cantar as músicas ao vivo. Fui lançando singles e depois passei uma fase em que pensei “preciso de viver”. Preciso de viver coisas para poder falar sobre isso, parar um bocadinho a rotina de viver a mil. Se nunca paras dois segundos, não consegues viver coisas para poderes contar. A melhor maneira de me conhecerem é através das minhas músicas, porque é aí que eu vou contar as minhas histórias.

 

 

 

 

Em 2020, tinhas um álbum fechado para entregar. O que é que este álbum de 2023 tem desse?
Só uma música. A nível musical, eu sinto que este álbum é o mais atual, porque só guardei uma música de 2020, a única que ainda tinha a ver com o David de agora. Foi uma música que escrevi em 2020 e que já estava à frente daquilo que eu era naquele momento. Escrevi a música com a Carol ao meu lado, a “Nós Dois”, e o som é mais safado, por acaso [risos].

E as outras músicas foram feitas nesse tempo de paragem que referiste?
Sim. Fiz um ‘camp’ com 15 compositores, em que juntamos todos numa casa. Era eu, compositores de Portugal, do Brasil, de Inglaterra, de França. E então fiz as músicas que entram neste álbum OYTO e tenho músicas já na gaveta para os futuros álbuns que vão sair brevemente, ainda este ano.

 

 

 

Qual é que a diferença do David de antes para o David de agora?
Musicalmente, bastante diferente.

Profissionalmente cresceste e és mais maduro?
Eu não diria maduro. Eu sinto que a nível de letras está mais fresh do que no passado, está mais jovem. Há tipos de flows que eu não faria antigamente.

E porque é que não fazias estes flows antes?
Porque não tinha evoluído para aí ainda. E o que eu sinto é sempre essa constante evolução de ouvir coisas novas, juntar-me com outras pessoas em estúdio para compormos juntos e ter essa constante evolução nas letras.

 


«Se eu estiver a fazer música, eu estou muito mais feliz, porque é aquilo que eu gosto de fazer a 100%»

 

Neste momento, estamos no teu estúdio. É aqui que tens passados os últimos meses?
Estamos na agência Brainstorm, que criei em 2020, durante a pandemia. Eu sempre tive a minha agência, desde 2011, a lançar as minhas músicas. Mas não tinha um local de trabalho em que possas ter tudo: dois estúdios de gravação, um quarto para dormir, ginásio, cozinha, um estúdio de ensaio com os músicos, toda a parte de gestão de carreira, label, rádio, digital, marcas, booking – tudo acontece aqui. E foi durante a pandemia que eu criei a estrutura e juntei isto tudo para facilitar no meu processo criativo. Passo muito tempo aqui: dia e noite.

Quantas colaborações tens neste álbum?
9 em 12 [das músicas] que o álbum tem.

E porque foi quase tudo em colaboração?
Porque, hoje em dia, é um bocado a tendência, quase toda a gente faz colaborações. E eu gosto porque é uma partilha.

 

 

 

Qual é a parte mais desafiante de todo o processo de construção de um álbum?
O mais desafiante é quando estás a escrever – é a parte em que eu me divirto mais. É o momento em que vês algo que está do zero e que começa a nascer ali alguma coisa. E, às vezes, gostas do que fizeste, chegas ao fim [e dizes] “ei, brutal”. Chegas ao carro e metes aos altos berros, já queres ver aquilo no Spotify e lançar e pensas: “calma, calma, vamos aguardar”. Outras vezes sais e “ah afinal não, esta vai para a gaveta” e um dia se alguém quiser lançar...

Quando é que percebeste que querias que o teu percurso fosse na área da música?
2014, acho eu, foi no meu primeiro álbum francês. Portanto, o meu terceiro/ quarto álbum.
 

E quando eras mais novo, não sabias exatamente que este era o teu futuro?
Eu sempre gostei muito de música, mas não achava que era uma possibilidade. E sempre gostei muito de composição. Quando era puto, eu escrevia letras, sempre gostei muito de hip hop, então sempre escrevi letras com rimas. E agora vou voltar mais a isso também.

 


«A melhor maneira de me conhecerem é através das minhas músicas, porque é aí que eu vou contar as minhas histórias»

 

Se calhar, é mais desafiante, tira-te da zona de conforto daquilo que tens feito nos últimos anos…
É isso, basicamente. Mas eu tento sempre fugir. Por exemplo, O Problema É Que Ela É Linda foi dos grandes singles do álbum “7” e nada tinha a ver com o que eu fazia na altura. E este álbum, mais uma vez, não tem nada que ver com o resto. Mas eu sinto que é uma transição. O pessoal que me seguia na altura também não quer ouvir as cenas que ouvia há 10 anos, também evoluiu. Então, acho que é a evolução lógica disso tudo.

Qual é a diferença entre o que és agora e o que eras nesse teu terceiro/quarto álbum francês?
Muita coisa... Se pensares bem é uma vida. Quando comecei o meu primeiro álbum, eu sabia o que queria fazer e tive sempre muito envolvido, tanto na composição, na criação e realização dos videoclipes. Hoje em dia, já não consigo – com a quantidade de coisas [que faço] é impossível, mas continuo a estar presente. Eu já não realizo nem produzo, tenho a ajuda de realizadores que conseguem levar a minha visão da música para a parte deles, que é a realização. Por exemplo, no Tu e Eu, a Yasmine vai ser a protagonista do clipe porque ela vai entrar no single logo a seguir, que é o Vou Tentar, e os dois clipes estão ligados numa história.

Qual foi o palco mais especial para ti até agora?
Diria que a Altice Arena, em 2019. Foi o meu primeiro concerto na Altice Arena, a 360º, e foi um marco porque sinto que, na altura, ninguém achava que eu ia esgotar aquilo. Nem eu próprio achava que ia esgotar, sinceramente, porque é uma sala muito grande. E o concerto correu muito bem, diverti-me imenso, o pessoal saiu de lá muito feliz. E o que senti foi: foi um marco. E fiquei com vontade de, no próximo álbum, fazer ainda maior e melhor e com uma vibe melhor ainda.

O que é que é preciso para seres feliz?
Fazer música. Se eu estiver a fazer música, eu estou muito mais feliz, porque é aquilo que eu gosto de fazer a 100%. Divirto-me imenso a fazer as outras coisas que faço, como apresentar, representar, cozinhar, mas cantar é a minha cena.